Barca d’Alba es un lugar idílico de flora mediterránea y bancales de almendros. Allí fijó su residencia el escritor Guerra Junqueiro, al que varias veces visitó su amigo Miguel de Unamuno, miembro, entonces, del consejo de administración de la Companhia das Docas do Porto e dos Caminhos de Ferro Peninsulares, una compañía de ferrocarriles lusa. Esa membresía permitía a Unamuno viajar gratis, por lo que, durante varios años fueron frecuentes sus viajes a Portugal. En su primer viaje (1894) Unamuno fue huésped de Guerra Junqueiro, una de sus grandes amistades portuguesas. Utilizó la línea ferroviaria, hacía poco inaugurada, que unía Salamanca con Oporto, cambiando en la estación de Barca d’Alva del tren español al portugués. Junqueiro le correspondió más tarde con otros tantos encuentros en Salamanca. Le gustaba pasear por la Plaza Mayor, «en sus soportales, donde la muchedumbre adopta movimientos rítmicos, mosconeo y vaho de masa humana endomingada», decía.
La concurrencia de las líneas internacionales portuguesas de Beira Alta y Douro, hacia territorio español, llevaron a confluir en Barca d´Alva con la línea internacional de Oporto a Salamanca por el Duero. Allí, en Barca d´Alva, se estableció la estación en 1864.
Se accede a Barca d’Alva por una carretera que discurre en zigzag por una estrecha franja de terreno entre el río y los escarpados riscos, dejando miradores a cada paso, como el del Alto da Sapinha o el de Penedo Durão, el mirador más alto del Duero, desde el que se observan campos bien tratados, viñedos en terrazas, olivos y naranjos junto al agua, y pequeñas huertas. Guerra Junqueiro estuvo vinculado a esta localidad fronteriza porque poseía la Quinta da Batoca, cerca del río Duero. Fue él quien impulsó la plantación de almendros en la zona después de que una plaga devastara las viñas, creando así los hermosos paisajes de almendros en flor que caracterizan la región en los meses de febrero y marzo.
A terra que o viu nascer
Abilio Manuel Guerra Junqueiro (Freixo de Espada a Cinta, 1850 – Lisboa, 1923) foi alto funcionário administrativo, político, deputado, jornalista, escritor, mais, acima de tudo, o poeta mais popular da sua época e o mais típico representante da chamada «Escola Nova». Foi um dos principais protagonistas da reação burguesa, jacobina e antirromântica que, no último quartel do século XIX, conduziu a literatura portuguesa para o realismo.
Em 1882, Junqueiro concretizou um sonho antigo, comprou a Quinta da Batoca, a sua grande paixão de regressar teluricamente à terra que o viu nascer. A Quinta fica em Barca de Alva e no dizer do, também transmontano, Raul Rêgo: “É nesta Barca de Alva que ele (o Douro) deixa a sua dupla nacionalidade e arremete, inteiro, pelo corpo de Portugal fora, isolando as províncias do Norte”.
Barca D´Alva é uma pequena povoação que está integrada no Parque Natural do Douro Internacional, determinando o limite do Douro em território português.
Na Quinta empregou o que herdara de sua mãe (quando esta faleceu, tinha Guerra Junqueiro 3 anos de idade). A ela se dedicou com toda a paixão de um verdadeiro lavrador duriense, investindo aí muitos capitais e muitos trabalhos e canseiras. O Poeta-Lavrador enterrou aí os seis contos de reis que lhe rendeu toda a publicação do seu livro “Pátria” (1915), bem como muito dinheiro que lhe renderam outros livros e a venda de bric-à-brac para investir na Batoca.
A quinta, das maiores do Douro, “era um jardim perfumado, de vinhas, olivais e amendoeiras”, gerando cobiças e atiçando invejas. Chegou aqui a ter cento e cinquenta mil videiras (os seus melhores poemas, no dizer do insigne Poeta), um vasto olival e um rico amendoal.
“Uma manhã, Júpiter
Apareceu-me em Barca D’Alva e disse-me,
Pondo a mão familiarmente no ombro
-“Queres fazer um poema homérico?
Vês esta terra selvagem?
Rasga-a ergue-a de socalcos, planta-a de vinha.
Dar-te-ei o sol para casar com ela!”
Ingénuo e deslumbrado, lancei-me ao trabalho.
Um dia, anos mais tarde, Júpiter voltou.
-“Belas cepas, Abílio!”
-“Cem mil, senhor Júpiter…”
-“Cem mil versos de ouro.
Fizeste o teu melhor livro!”
Por volta de 1868 a filoxera tinha chegado ao vale do Douro. Como muitos agricultores, Guerra Junqueiro tentou resolver o problema por si mesmo. Muito fez e estudou para combater essa doença da vinha, mas nenhum método foi bem sucedido. Quando a região foi assolada pela praga, causando grande danos nas vinhas, o poeta incentivou o plantio das amendoeiras nos terrenos devastados pelo flagelo. Outros proprietários seguiram o exemplo e o resultado foi a criação de um cenário poético e vibrante de amendoeiras em flor no início da primavera.
Reza a lenda que as amendoeiras surgiram em Portugal, antes de este ser reino, no tempo dos mouros. A amêndoa é um dos frutos mais produzidos na região do Douro, principalmente nos concelhos de Freixo de Espada à Cinta, Mogadouro, Torre de Moncorvo e Vila Nova de Foz Côa, que se inserem na Rota das Amendoeiras. Os primeiros botões de flor de amendoeira desabrocham um mês antes da primavera, anunciando, sem demoras, a estação mais florida. Desde a segunda semana de fevereiro até aos primeiros dias de março as amendoeiras florescem e o Douro adquire uma imagem nova, mais colorida, pura e serena. Os vales despidos pelo Inverno adquirem uma nova roupagem em tons branco e rosa. Cada ano, a CP – Comboios de Portugal organiza um programa especial dedicado às Amendoeiras em Flor.
IMAGEM: CP – Comboios de Portugal (Facebook)