Nome maior da ficção portuguesa do século XX e autora de uma obra singular e inconfundível, Agustina Bessa-Luís completaria 100 anos no dia 15 de outubro do ano 2022. A cidade de Amarante, terra natal da escritora, recebeu em 2022, o evento de apresentação das comemorações do centenário da escritora.
As comemorações do centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís decorrem entre 15 de outubro de 2022 e a mesma data, em 2023.
Agustina nasceu em Vila Meã, Amarante. As contingências da sua vida levaram a família a viver em vários lugares do Norte e do Douro — Gaia, Porto, Póvoa de Varzim, Águas Santas, Outeiro Maior, Vila do Conde e Godim, naquela que era a casa de família da sua mãe. A relação com a região duriense, durante largas temporadas da sua infância e adolescência, marcaria de forma indelével a obra da escritora.
Desde muito jovem que Agustina se interessou por livros, descobrindo na biblioteca do avô materno, os clássicos da literatura espanhola, francesa e inglesa, marcantes na sua formação literária. Em 1932 vai para o Porto estudar, onde passa parte da adolescência, mudando-se para Coimbra em 1945. A partir de 1950 fixa definitivamente a sua residência no Porto.
Estreou-se como uma brilhante romancista em 1949, ao publicar a novela Mundo Fechado, mas seria o romance A Sibila, publicado em 1954 que constituiu um enorme sucesso e lhe trouxe imediato reconhecimento geral. E é com A Sibila que atinge a total maturidade do seu processo criativo. O título remete para as figuras clássicas das sibilas, como a Delfos, a mais célebre de todas. No romance, a palavra indica a protagonista, a Quina. Descreve a trajetória da família Teixeira e da sua casa secular que caminha da decadência/ruína ao ressurgimento grandioso/triunfal ao longo dum século. No livro, a autora casa muito bem os tempos passado e presente, colocando as dúvidas, as angústias e os problemas mais substanciais que determinam a rigidez de personagens que afloram num espaço agrícola tipicamente regional. Este romance venceu o Prémio Delfim Guimarães e o Prémio Eça de Queiroz.
É conhecido o seu interesse pela vida e obra de um dos grandes expoentes da escola romântica, Camilo Castelo Branco, cuja herança se faz sentir quer a nível temático (inúmeras obras de Agustina se relacionam com a sociedade de Entre Douro e Minho), quer a nível da técnica narrativa (explorou ficcionalmente a própria vida de Camilo).
A sua criação era extremamente fértil e variada. Escreveu até o momento mais de cinquenta obras, entre romances, contos, peças de teatro, biografias romanceadas, crónicas de viagem, ensaios e livros infantis. Foi traduzida para alemão, castelhano, dinamarquês, francês, grego, italiano e romeno. A Sibila já atingiu a vigésima quinta edição, sendo de leitura opcional no Ensino Secundário. Em 2004, aos 81 anos, recebeu o Prémio Camões, o mais importante prémio literário da língua portuguesa. Na ata do júri da XVI edição do Prémio, pode ler-se que «o júri tomou em consideração que a obra de Agustina Bessa-Luís traduz a criação de um universo romanesco de riqueza incomparável que é servido pelas suas excepcionais qualidades de prosadora, assim contribuindo para o enriquecimento do património literário e cultural da língua comum».
Dedicou-se quase inteiramente à criação literária e, desde sua estreia em 1948, manteve um ritmo de publicação pouco usual nas letras portuguesas. Em 2004 recebeu o mais importante prémio literário da língua portuguesa, o Prémio Camões.
Também se distinguiu enquanto articulista da «escola» do «jornalismo literário», tendo colaborado com assiduidade na imprensa. Agustina Bessa-Luís colaborou em várias publicações periódicas, tendo sido entre 1986 e 1987 diretora do diário O Primeiro de Janeiro (Porto). A autora revela preocupação pela condição social e cultural dos portugueses, particularmente interessada em perscrutar o passado, recorrendo à ficção para problematizar o conhecimento histórico e vivencial.
Em julho de 2006, pouco depois de terminar A Ronda da Noite, a derradeira obra de Agustina publicada em vida, deixou de escrever e retirou-se da vida pública. No livro A Ronda da Noite, a escritora debruça-se sobre a geografia do país profundo, a relação da cultura portuguesa com as sociedades do Norte, (a britânica e a holandesa em particular) e o comércio, em que se urde a ideia de civilização e os ofícios da arte. Um espetáculo que comprova a singularidade de Agustina enquanto intérprete da história das imagens e da modernidade europeia.
Morreu a 3 de junho de 2019, em sua casa, no Porto.
Agustina 100
As comemorações do centenário do nascimento de Agustina Bessa-Luís decorrem entre 15 de outubro de 2022 e a mesma data, em 2023. No decorrer da sua vida em Amarante, no Porto e noutros concelhos do Norte de Portugal, se torna umbilical o laço que liga a sua obra literária de valor ímpar à Região Norte. Neste contexto, as comemorações do centenário do nascimento da escritora visam promover o seu legado artístico e cultural, ao mesmo tempo que desenvolvem o estudo e a valorização do seu vínculo territorial ao Norte de Portugal.
Entre as instituições promotoras estão os Municípios de Amarante, Baião, Esposende, Porto, Póvoa de Varzim, Peso da Régua e Vila do Conde, a Direção Regional de Cultura do Norte, as Universidades do Porto, do Minho e de Trás-os-Montes e Alto Douro, a Entidade Regional de Turismo do Porto e do Norte, a Fundação de Serralves e a Associação de Turismo do Porto e Norte de Portugal, contando com o apoio institucional da CCDR-NORTE.