‘Latim em pó’. Os caminhos da língua portuguesa no Brasil

Com o intuito de expor o trajeto de formação da língua portuguesa, «Latim em pó: Um passeio pela formação do nosso português», o novo livro do professor, tradutor, pesquisador e escritor Caetano W. Galindo (Companhia das Letras, 2023) instiga o leitor a se questionar sobre o idioma que utiliza no dia a dia. Através de uma prosa fluida e envolvente, Galindo não só reconstitui a história de nosso idioma como também fala sobre os desvios, muitas vezes considerados «erros», que formam e modificam a língua desde sua criação. Começando pela Europa e pelo latim, com especial atenção a Roma, passando pela Reconquista e pelo colonialismo na África e na América Latina, o autor traça um panorama amplo e compreensível da língua portuguesa no Brasil.

«Não contente em ser um dos melhores tradutores do país, Caetano Galindo também nos presenteia com uma das melhores leituras da nossa língua, sua história, seus aspectos e usos. Este livro é um passeio, uma navegação pelo português e pelo Brasil.»

Noemi Jaffe

Ainda que a língua seja algo que nos venha de forma relativamente natural, a linguística é um campo denso, complexo e cheio de idas e vindas. Contar uma história resumida da língua portuguesa brasileira é portanto uma tarefa muitíssimo árdua de ser feita com competência e rigor científico, porém ao final da leitura é possível constatar que Caetano W. Galindo foi bem sucedido.

Sem as pretensões de esgotar o tema, Galindo nos leva a um passeio do nosso português desde as suas mais remotas origens, ou seja, da aquisição da língua na infância dos seres humanos. O percurso é dividido em capítulos curtos, indo razoavelmente em ordem cronológica e em temas que modificam significativamente a língua. O que vamos aprendendo é que nossa língua é uma das muito possíveis que existiram, e mitos como «a língua é difícil», «não se fala o português correto», entre outros, vão sendo derrubados com ótimo embasamento.

Um dos triunfos do livro também está em colocar as contribuições dos mundos árabes, africanos e indígenas de forma essencial e profunda em nossa língua. Enquanto todos sabemos que sua origem remonta ao latim, outras línguas e povos contribuíram muito além de uma lista de palavras no nosso português, o que essencialmente é o que diferencia ele da sua contraparte europeia. Galindo mostra como não há português brasileiro sem indígenas, africanos e árabes, e o faz muitíssimo bem.

O professor não é adepto daquela corrente que simplesmente aceita a esculhambação da língua no Brasil a pretexto de uma «liberdade». Ele pontua as inevitáveis variações, adaptações e construções da língua portuguesa falada em todo canto, mais notadamente no nosso país. O conteúdo joga luz sobre as raízes da linguagem brasileira. Muito oportuno dizer que depois desse livro dificilmente nós poderemos alimentar aquele complexo de «não sabermos falar bem o português» no Brasil.

Leandro Almeida

É maestral a escrita do livro. Voltado ao público geral, Galindo tem uma escrita leve, divertida e fluída, mas mesmo assim não perde o rigor científico e não simplifica o que não pode ser simplificado. Algumas passagens são mais densas nas questões técnicas (ao menos para um leigo no assunto), mas existe sempre uma preocupação em se comunicar com qualquer um que saiba falar e ler o português brasileiro. É um grande e raro feito saber equilibrar divulgação e rigor científicos, e nisso o livro se dá muito bem.

Ao final da edição da Companhia das Letras, ainda há uma lista de leituras sugeridas pelo autor, com ele comentando cada obra. Acaba sendo um livro que recomendo para interessados no tema, mas também para qualquer pessoa que queira entender mais profundamente sobre o nosso português.

TEXTO: Isaac S.

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