A Cor da Liberdade: Leituras Comunitárias na Tomada do Carvalhal

Realiza-se, no dia 14 de fevereiro de 2024, quarta-feira, no Souto da Casa (Fundão), a tradicional festa popular da Tomada do Carvalhal, que este ano assinala o 134º aniversário.

A Tomada do Carvalhal constitui uma tradição do povo do Souto da Casa, em que todos os anos, na quarta-feira de cinzas, a população junta-se e, ao tiro de morteiro, ruma ao Carvalhal, em plena Serra da Gardunha, de forma a comemorar a sublevação do povo perante a tentativa por parte da família Garrett de impedir a população de cultivar os terrenos constituintes do Carvalhal. Para a população, o Carvalhal não era nem poderia ser propriedade de uma só pessoa, mas sim de todo o Povo do Souto da Casa, que era quem trabalhava e amanhava aquelas terras desde sempre.

Considerado por muitos, como o primeiro grito de liberdade em Portugal, este ano assinala os 50 anos do 25 de Abril. O programa inclui uma Sessão de Leituras Comunitárias de celebração da Liberdade, que promove a editora Alma Azul para assinalar os 50 Anos do 25 de Abril de 1974 e os seus 25 anos de trabalho (1999-2024).

A Alma Azul, editora e produtora de actividades literárias que promove programas de leitura, convidou ao município de Juzbado, na província espanhola de Salamanca, para se juntar à Sessão de Leituras «A Cor da Liberdade».

«A Cor da Liberdade» parte de um verso de Jorge de Sena que da o mote às Leituras Comunitárias de textos de Luís de Camões; de quem se celebra em 2024, os 500 anos do seu nascimento; Sophia de Mello Breyner Andresen, António Ramos Rosa e Alexandre O´Neill, autores nascidos em 1924 (centenário); Maria Velho da Costa, entre outros; e também fará uma homenagem merecida a José Alberto Oliveira, autor da Assírio & Alvim, nascido em Souto da Casa.

Através da presença de convidados vindos de Juzbado, Salamanca, as Leituras estendem-se a outros autores da Península Íbérica. A escolha dos autores pertence aos convidados de Juzbado, a quem é oferecida a edição da Alma Azul “20 Espanhóis do Século XX”, com Seleção, Introdução e Notas de Antonio Sáez Delgado, com traduções de Ruy Ventura.

A edição é de 2003; e foi produzida para o Encontro de Poesia Espanhola que se realizou em Coimbra – Castelo Branco – Póvoa de Atalaia – Alpedrinha, e contou com a presença de autores importantes da poesia espanhola, entre eles, Martín López-Vega.

Há um grito como o que ainda hoje, mais de um século passado, ecoa anualmente: “O Carvalhal é Nosso!” que o mesmo é afirmar; comunitário, de todos nós, uma terra sem dono.

O povo junta-se em Souto da Casa, concelho do Fundão, cujos habitantes recebem com afabilidade os forasteiros que queiram juntar-se ao grito: “O Carvalhal é Nosso!” para, anualmente, na quarta-feira de cinzas, subir a Serra da Gardunha e honrar o grito dos valentes que um dia, de forquilhas, sachos e outras alfaias agrícolas na mão; únicas armas de defesa e de ataque que possuíam, lutaram contra a poderosa “família Garrett” que se dizia dona do Carvalhal na Serra da Gardunha.

E esse bravo povo de Souto da Casa; sem armas maiores que as suas mãos e ferramentas de trabalho com que tiravam o sustento da terra, enfrentaram o senhor que se dizia dono do Carvalhal e fizeram justiça no dia 13 de fevereiro de 1890, o que ainda hoje, em pleno século vinte e um, se recorda como um dos primeiros gritos de Liberdade em Portugal.

In Eugénio de Andrade – Da Beira Baixa ao Porto, de Elsa Ligeiro

TEXTO: Alma Azul

IMAGENS: Ayuntamiento de Juzbado (Salamanca)

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